“Arte e Expressão” | Opinião – LIMBO Magazine

“i saw her standing there”, de Mariana Jaudenes (IG @smsdetucrush)

Arte e Expressão

Para muitos de vós, a arte é vida, real e literalmente. A arte dá sentido. Eu amo a Arte. Venero-a. Dou-lhe tantos fins quantos consigo. Por vezes são utilitários, porque quero aprender algo. Outras, fica confuso, porque sinto necessidade de usufruir dela. Quer seja apreciando obra alheia, pura e simplesmente, pelo génio, pela estética, pelo conteúdo, pela técnica. Quer porque necessito expressar, refletir, e criar algo a partir disso.
Filipa Ferreira
Arte e Expressão, Artigo de Opinião, LIMBO Magazine, Mariana Jaudenes

“i saw her standing there”, de Mariana Jaudenes (IG @smsdetucrush)

Muitos são os artistas, filósofos e pensadores que nos presenteiam com as mais variadas definições de arte. Entre teorias de imitação, expressivistas e formalistas, só consigo pensar que, no fim do dia, como qualquer conceito abstrato, é algo altamente subjetivo ao ser.

Acredito que a arte pode ou não ser de imitação, pode ou não ser por expressão, pelo sentimento da emoção estética de Bell, pode até ser um conjunto de tudo isto. Acredito que tenha muitas vezes a ver com intenção, mas para mim, acima de tudo, é uma forma de expressão. O que prova a individualidade da coisa.

Isto da forma de expressão tem muito que se lhe diga. Primeiro porque estamos sempre a exprimir algo, até quando não queremos exprimir, exprimimos alguma coisa. Segundo, porque a intencionalidade da expressão, ou seja, o seu contexto, tem um peso, obviamente, na criação última, no artista e em todo e qualquer recetor da obra. As mensagens mais abstratas transmitem-nos algo, por isso é quase triste, por não ser poético, mas a arte tem muito de comunicação. Onde eu quero chegar é à ponte para a intencionalidade. Se fisiologicamente, um artista, urge por se expressar, será a arte uma utilidade para o seu íntimo?

Inserções artísticas de Balona (ig: @__balona)

A palavra utilidade é meio agressiva no contexto, porque uma condição de utilidade quando abraçada à arte, quase lhe confere um materialismo e superficialidade, o que neste caso em concreto, é o oposto do que se pretende. Mas isto, leitor, são divagações. E em última instância, a utilidade é uma assombração. Um dilema. Mas se não tivesse de o ser, passaria a sê-lo outra vez, porque só consigo pensar em Stuart Mill, e se uma ação é boa quando causa felicidade, e má quando não, e muitos de nós sentimo-nos bem com o mal que exprimimos, ficamos onde, afinal? É um paradoxo. E um não paradoxo, em simultâneo. E Mill também não é possuidor da Verdade. Mas acima de tudo, isto não interessa para nada, porque estou a colocar falsas questões, quando eu própria, no dia a dia, não tomo nada disto em conta.

Para muitos de vós, a arte é vida, real e literalmente. A arte dá sentido. Eu amo a Arte. Venero-a. Dou-lhe tantos fins quantos consigo. Por vezes são utilitários, porque quero aprender algo. Outras, fica confuso, porque sinto necessidade de usufruir dela. Quer seja apreciando obra alheia, pura e simplesmente, pelo génio, pela estética, pelo conteúdo, pela técnica. Quer porque necessito expressar, refletir, e criar algo a partir disso. Não dá para explicar muito melhor que isto. Talvez o meu maior problema seja o estar quase numa de personificação da Arte, num jogo em que a ataco e defendo, chamando-a útil tanto como elogio, como deslouvor.

Só que não estou a atacá-la, porque preciso dela para viver. Apreciar arte pela arte, e por tudo o que já enumerei acima — não sei se posso chamar felicidade, êxtase ou transe ao sentimento que me é provocado. Há certos tipos de peças que ilustram bem o quão específica pode ser a minha relação com a arte. Por vezes há quem se ofenda por elas, talvez por se identificar ou colocar no papel do destinatário, dizem. Noutras põe-se em causa quem se coloca no papel do sujeito poético. E por fim, há peças que aprecio com um sentimento de êxtase, eletrificada pela quantidade de sinapses que são ativadas porque o génio, a estética, o conteúdo e a técnica estão todos na minha versão “do sítio”. Consequentemente, vem um sentimento de regozijo, em que só penso no gozo que há de ter sido para o Artista, durante todo o processo e fases criativas, desde a ideia, conceito, até à sua publicação. Posso estar enganada, mas todos nós temos a nossa versão de intenção, ideia, significados que o Artista pretende dar. Esse mesmo Artista, e olhem que cheio de razão, no fim do dia só quer saber da sua própria opinião. E eu mesma, que crio uma barreira hierárquica, saudável, entre nós, em que estou obviamente na base, concordo com ele. Porque eu também não estou interessada em opiniões ou críticas construtivas, e tenho de o admitir. Fico feliz quando gostam ou se identificam. E fico tranquila que não gostem, ou não entendam, porque eu entendo e faço-o para mim, sobre mim, também por que preciso e nesta versão a opinião de outrem não interessa, porque não tem em conta o objeto de estudo, sujeito e protagonista de qualquer criação: o Artista.

Talvez um dia seja corajosa o suficiente para me imiscuir na Arte e ter a ousadia de me considerar a presunção do parágrafo anterior — o de que estou sequer perto de o ser.

Desde criança o Artista é o meu herói, e só uma pessoa especial o é. Não deixa, claro, de ser um exercício de emancipação, libertação e desopressão. E no final das contas, resume-se ao que já foi dito — à necessidade que tenho de me expressar, mesmo que isso signifique, ou não, ser pobre de génio, estética, conteúdo e técnica. Isto nem é um artigo de opinião, é um exercício de divagação e não pretende ser educativo.

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