
Texto de opinião por Manel Seatra, autor de Dias de Folga (2018) e Raiz Densa no Pátio da Garganta (2020),…
Maria Eduarda Leite
Desde muito cedo que estou envolvida no mundo do espetáculo. Desde compôr as minhas próprias músicas num inglês pouco articulado, concertos para a família em natais de mesa cheia, peças de teatro na escola primária e coreografias ao som dos hits do verão para os amigos no recreio. Os meus pais reconheceram o meu talento natural para as artes e inscreveram-me numa academia de música no 5º ano. Estudei piano durante 5 anos mas era bem mais feliz no coro. Acabei por estudar outros 5 anos canto lírico e ser razoavelmente bem sucedida. Durante estes anos de formação, vivia e respirava música. Sentia-me como uma verdadeira artista.
Decidi procurar em mim as respostas que me faltavam. Aqui partilho as minhas descobertas.
Comecemos por refletir sobre a definição de artista. Quem é esta personagem? O dono de ideias geniais ou o artesão que transforma a matéria prima? O artista é simultaneamente o que propõe o conceito — mesmo sem ser o responsável pelo seu desenvolvimento — e o criador de uma obra que não lhe pertence.
Podemos recuar no tempo para precisar esta perspetiva. Os grandes artistas do renascimento ou de outros tantos movimentos artísticos antigos, diriam que o poder de criação remete para uma benção divina ou relação mística com uma força superior. Mas agora que a ciência predomina, como podemos justificar o chamamento de um artista?
Quem ganha da arte diria que tem uma necessidade inerente de criar e não vive para outra coisa. Há uma certa vontade e desejo de estar constantemente a construir algo novo que lhes parece impossível de ignorar. Infelizmente, esta vontade interior não parece ser suficiente para a sobrevivência do autor. Este depende de uma aprovação coletiva dos seus talentos em praça pública que tem o poder de determinar o valor das suas criações.
A arte reflete a sociedade em que vivemos e revela as nossas angústias e desejos individuais. Independentemente das escolhas, materiais ou estilos do artista, o espectador parece apresentar uma leve dissociação das suas explicações. Ao invés, interpreta as suas intenções como bem deseja e cria para si um novo sentido.
Como podemos julgar este valor reconhecido pelas massas? Depende da sua técnica? Ou da capacidade de nos fazer experienciar algo nunca antes visto? Talvez uma combinação dos dois fatores seja o ideal. Um bom artista será o que detém o engenho e a habilidade aliados a um pensamento artístico disruptivo. Nos dias de hoje, em que a educação artística é mais acessível, o espectador mostra-se mais interessado na criatividade, que valoriza a sua expressão individual, do que na habilidade técnica que pode ser treinada.
Vemos que alguns foram bem sucedidos nas suas carreiras, a percorrer os palcos nacionais ou a encher as galerias internacionais. Temos imensas referências de talentos famosos. Outros, por falta de reconhecimento ou preferência pessoal, mantêm as suas criações para os tempos livres e não trocam as suas ocupações do dia-a-dia para se dedicarem à arte a full-time.
Mas então se um artista é tudo isto, porque é que eu também não serei?
Talvez pelo peso e responsabilidade que o título “artista” traz à minha identidade. Se calhar prefiro ficar na sombra da minha insegurança, por medo de me sujeitar à opinião pública e me tornar só mais uma conta de música no Instagram ou um vídeo perdido de um casting num qualquer concurso televisivo de talentos. Enquanto este desejo de expressão viver apenas dentro de mim, poderei continuar a achar que o que tenho é especial.
Não estou à procura de exposição pública, apenas um cantinho para me expressar e ser quem eu mais gosto de ser e como eu mais gosto de viver, a cantar.
Por Maria Eduarda Leite
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Texto de opinião por Manel Seatra, autor de Dias de Folga (2018) e Raiz Densa no Pátio da Garganta (2020),…
(...)As mensagens mais abstratas transmitem-nos algo, por isso, é quase triste, por não ser poético, mas a arte tem muito…
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